Entrevista Ilustrador Miwano Rag: A primeira exposição solo de Drown in Water and Dream
A exposição apresenta cerca de 150 novas ilustrações de seu primeiro livro de arte Drown in Water and Dream, incluindo algumas de sua série pessoal Fantasy Water Tales.
Em uma recente entrevista, o ilustrador Miwano Rag contou um pouco sobre a composição das suas ilustrações. Realçar os olhos e prestar atenção na pose dos seus personagens é essencial para deixar todo o trabalho mais natural. Acompanhe a entrevista:
Entrevista Ilustrador Miwano Rag
-Você foi de animador para um ilustrador freelancer, certo? Era esse o emprego que você sempre queria?
Miwano – Eu acho que eu estava bem interessado nisso, mas nunca pensei em uma futura carreira… A faculdade que eu fiz nem tinha relação com arte. Mas por acaso me deparei com um anúncio de emprego da produtora do meu programa favorito que estava procurando por animadores enquanto eu era um estudante! Eu decidi mandar algumas ilustrações e acabei pegando o emprego. Então eu deixei a escola e me tornei um animador.
-Que ousadia a sua!
Miwano – Sim. (risos) Eu estava planejando fazer uma busca regular de emprego, mas acabei vivendo de desenhar. Eu acho que fui muito sortudo.
-Mas para conseguir um emprego em um estúdio de animação, você já deve ter desenhado bastante?
Miwano – Eu desenho desde que eu me entendo por gente, mas a grande mudança veio quando eu era uma calouro do ensino médio durante minha estadia de um mês em uma casa de família nos EUA. Minha mãe sabia que eu gosstava de desenhar, então ela me levou a um lugar no Colorado onde a cidade inteira estava cheia de arte. Um dos artistas de lá, me perguntou o que eu gostava de desenhar, então eu desenhei algumas coisas e eles ficaram tão felizes que acabei dando o que fiz pra eles. Durante esse tempo, eu preenchia um caderno de 100 páginas em 2 semanas.
-Isso é incrível. Há quanto tempo você é um ilustrador freelancer?
Miwano – Deixei minha empresa em 2019, então faz pouco mais de 2 anos. É preciso ganhar dinheiro pra sobreviver, mas era só uma questão de tempo até eu começar a procurar por um novo emprego, e eu decidi que a única coisa que eu poderia fazer era pensar seriamente sobre desenhar. Foi por isso que eu decidi focar em subir minhas ilustrações para as mídias sociais.
-Você subiu algo além de seu melhor trabalho?
Miwano – Se eu não tivesse subido nada além disso, ninguém me reconheceria como ”Miwano Rag O Ilustrador”. Então eu pensei que era importante obter o máximo de exposição possível no começo.
Como o ilustrador Miwano Rag trabalha?
-Qual é o seu ambiente atual de trabalho?
Miwano – O software que eu uso se chama CLIP STUDIO PAINT EX. Eu uso Wacom Cintiq Pro 24 para desenhar as linhas e Wacom Intuos Pro no tamanho M para colorir. Eu uso o Cintiq Pro 24 numa tentativa de corrigir minha postura. Eu tenho desenhado digitalmente por 10 anos. Eu lembro que minha mãe ficou muito brava comigo porque eu comprei um tablet pra desenho bem antes de fazer o vestibular. (risos)
-Seu estilo é conhecido por ter uma sensação de translucidez. Qual conselho você daria para os artistas que querem implementar essa translucidez nos seus trabalhos?
Miwano – É tudo sobre pintura. Eu sempre amei procurar por pinturas de aquarela e óleo, e se você observar mais de perto as pinturas ocidentais do Renascimento ao período moderno, você verá que, embora a pele pareça tão translúcida, ela é muito bem pintada. E foi isso que me deu a ideia de focar no contraste entre as cores claras e escuras, em vez de usar exclusivamente as cores claras.
-O contraste entre claro e escuro?
Miwano – Por exemplo, a cor com a saturação mais alta é colocada entre o claro e o escuro. Ao lado, a cor mais escura é colocada, e ao lado, uma cor que parece uma mistura de azul claro com cinza. Esse arranjo de corer é algo que aprendi das velhas pinturas.
as áreas que fazem fronteira são pintadas de uma cor rosada e as sombras usam uma mistura um pouco mais opaca de azul claro e cinza.
-Eu sempre pensei que ilustradores que focavam na claridade tinham a fotografia como um hobby, mas no seu caso suas raízes estão em aquarela e pinturas com óleo.
Miwano – Uma das pinturas que mais causou impacto em mim foi ”Filha do Pescador” de William Adolphe Bouguereau. Quando eu era calouro no ensino médio, eu me apaixonei completamente por esse trabalho e tinha até uma versão de cartão-postal que eu estimava.
Por que os olhos e as poses são importante?
-Você sente que ainda usa sua experiência como animador hoje?
Miwano – Quando eu era animador, meu chefe me disse, ”A coisa mais importante em uma animação são os olhos. Quando você olha pra tela, os olhos são a primeira coisa que você vê, e só então você percebe o que está em volta.” Eu ainda uso esse conselho hoje e faço questão de focar nos olhos quando desenho.
-O que exatamente você quer dizer em ”focar nos olhos”?
Miwano – Guiar o olhar do espectador pode parecer um pouco difícil, mas na essência, isso significa ”deixar claro quais partes da imagem são as primárias e quais são as secundárias”. Se tudo é pintado exatamente do mesmo jeito, o espectador não vai saber pra onde olhar. Os olhos do personagem, ou rosto, é a parte que eu quero destacar. É por isso que eu uso cores altamente saturadas e as mãos que ficam próximas do rosto. Por outro lado, eu afasto as cores menos saturadas do rosto e tento não chamar muita atenção pra essa área. Eu penso nisso como aumentar a quantidade de informações ao redor do rosto e ”removê-las” de outros lugares.
-Você uso muito efetivamente o desfoque no fundo das suas ilustrações. Essa é uma outra maneira de ”remover” as informações?
Miwano – Eu nunca fui bom em desenhar fundos, por isso que eu comecei a desfocá-los. (risos) Desfocando, eu sinto que um equilíbrio pode ser conquistado onde há informação o bastante sem ser óbvio demais. Isso também ajuda a adicionar profundidade para a ilustração.
-Há algo mais que você aprendeu como um animador que ainda usa hoje?
Miwano – Sempre me disseram para observar as poses que as pessoas fazem naturalmente no dia a dia. Então, eu comecei a tirar fotos das pessoas ao meu redor em poses casuais e passei a trazer elas para as ilustrações. Para melhor ou pior, as poses que não são naturais criam uma sensação de tensão nas ilustrações. Sou melhor em pensar em poses que não são naturais, então, quando eu desenho poses tão naturais, eu posso descobrir coisas novas como as rugas nas roupas ou a amplitude de movimento nos ombros.
-Como você praticava quando começou a desenhar?
Miwano – Eu sempre gostei de desenhar (desenhos de manequins humanoides), então desde que eu era um estudante eu desenhava eles rapidamente e em várias poses com uma caneta esferográfica. É quase como desenhar um modelo vivo. Com um lápis, você pode voltar e refazer, mas com uma caneta esferográfica, você não pode fazer correções, então você tem que pensar em como desenhar.
A pose dos personagens e os detalhes nas ilustrações de Miwano Rag
-Eu soube que o foco das suas composições é a pose do personagem. O que você considera ser uma boa pose?
Miwano – Eu pratico balé desde os meus 2 anos de idade, e essa experiência me ajudou a pensar nas poses para os meus personagens. Minha preferência é procurar pelo movimento e ângulos que permitem linhas curvadas, pois eu sinto que as linhas retas não expressam bem as emoções. Mas a pose do personagem e a composição geral da imagem vai definitivamente mudar dependendo do que eu quero mostrar.
-E como você junta tudo isso?
Miwano – Mesmo se você tiver um personagem que esteja sentado, se você colocar as mãos deles próximas do rosto, o foco vai estar no rosto. E se você colocar uma flor no colo dele, isso vai se tornar um ponto de interesse também. Se você primeiramente não decidir o que você quer realçar, você não será capaz de decidir a composição geral. Muitas pessoas começam com um motivo ou tema, mas eu sempre penso na pose primeiramente, e então adiciono os elementos que vão aprimorar o trabalho. Essa é só a minha opinião, mas eu sinto que se eu começar com um tema, o trabalho final vai ser inevitavelmente encaixado nesse tema e eu não seria capaz de criar nada que valha a pena.
-Então você começa com uma pose?
Miwano – Vamos usar uma das minhas ilustrações antigas, ”A Cavaleira da Água”, como um exemplo. Essa é uma composição que enfatiza muito linhas verticais.
Miwano – O rosto e os braços estão alinhados com a espada. Dessa forma, a linha diagonal da espada é mais chamativa. Enquanto uso a espada para enfatizar essa linha, eu também adiciono a água para tornar tudo mais dinâmico. Então eu adiciono um respingo em direção ao olho direito para pegar a atenção de volta do espectador para o rosto do personagem, o que resulta no olhar do espectador sendo atraído de volta para a linha da espada em um loop contínuo…
-Entendo. Então você decidiu os detalhes trabalhando a partir da intenção de realçar as linhas verticais. Também ouvi dizer que você é exigente quanto ao título de suas obras.
Miwano – Agora, me deixe a usar minha ilustração Garota-Loba Que Joga Flores Venenosas, como um exemplo. Primeiro, eu comecei com a intenção de desenhar uma garota sentada, mas no meio, eu queria desenhar orelhas de besta, então ela se tornou uma garota-loba. E já que ela é uma loba, eu pensei, essa criança pode ser uma mentirosa. Foi que eu lembrei de ter ouvido ”lindas flores tem veneno”. Eu interpretei mentir como ”jorrando flores venenosas,” e então eu adicionei algumas flores ao desenho… Meu fluxo de trabalho é geralmente assim.
-Então, em ver de decidir um título depois de terminar, você usa o título como uma forma de expandir sua visão do trabalho?
Miwano – Exatamente.
-Eu sempre tive a impressão de que os ilustradores eram divididos em dois grupos. Aqueles que focam no visual e começam com um motivo para desenhar, e aqueles que começam com um conceito, indo tão longe ao ponto de começarem a construir um mundo e dar ao personagem alguma história de fundo. Eu não tinha ideia de que seu jeito de desenhar existia.
Miwano – Quando nós anteriormente lançamos o making-of, as pessoas ficaram surpresas com esse ”jeito incomum” que eu desenho. (risos) Eu comecei a arte de linha enquanto eu ainda estava na fase de esboço, então eu continuei esboçando tudo enquanto adicionava mais arte de linha. Então eu comecei a colorir parte dele enquanto eu ainda estava no trabalho de linha… Minhas ideias se expandem enquanto eu desenho então eu costumo a ir e voltar entre o esboço e a arte de linha. No meu trabalho regular, eu tento ao máximo não fazer o esboço muito rígido.
-O que você faz quando tem um bloqueio criativo?
Miwano – Quando estou sem ideias, eu tomo vantagem do poder da música. Eu escuto músíca que mexe comigo, e danço também, então eu consigo chegar mais perto do sentimento de ”é isso que eu quero desenhar.”
Um pouco sobre a obra de Miwano Rag
-Nos conte sobre sua série, Fantasy Water Tales.
Miwano – É um trabalho original ambientada em uma cidade quase submersa que foca no conflito entre os humanos e os ayakashi (uma palavra para espíritos de fantasmas que aparecem ao redor da água). Eu originalmente tive a ideia 5 anos atrás, e na época eu era muito interessado em uma história que expressaria emoções através das batalhas e do conflito. A partir disso, eu tive a ideia de uma cidade onde a atmosfera muda a cada level, onde garotos e garotas correm pelas ruas…
-Há muitos personagens, como aqueles que são parte de uma organização secreta dos onis e dos ayakashis. Isso cria uma história convincente e com vários protagonistas, existe algum personagem ao qual você se apega particularmente?
Miwano – Teria que ser a personagem principal, Nagi Mizuno. Ela é um membro dos onis, mas tem sangue de um ayakashi. Nagi é uma personagem que eu desenhava muito antes de começar a trabalhar em Fantasy Water Tales. Ela tem cabelo curto, uma gravata, pernas… Basicamente todas as minhas coisas preferidas. (risos)
-Ambos seu primeiro livro de arte, lançado em março, e essa exibição solo são intitulados Drown in Water and Dream.
Miwano – Perguntei ao meu editor na KADOKAWA o que eles acahavam que seria um título apropriado baseado nos meus trabalhos anteriores e com o que comecei com Fantasy Water Tales e nós percebemos que ”água” era uma tema forte e abrangente no meu trabalho. Então nós adicionamos ”sonho” para criar uma atmosfera mais caprichosa, e o título surgiu. Isso se refere ao sonho que você experimenta no segundo em que se afoga.
-O espaço para a exposição é decorado com cores de aurora boreal e outros materiais que recriam a atmosfera de sua arte.
Miwano – Eu sou verdadeiramente grato a todos os membros da equipe que fizeram isso possível. É algo que eu não poderia ter feito sozinho. Eu espero que todos possam aproveitar não apenas a arte, mas a atmosfera geral.
-Eu soube do gerente da galeria que você usa tipos de materiais bem específicos.
Miwano – Isso tudo começou quando eu adquiri o Blu-ray de Blue Exorcist. O papel prateado incluído nele era tão impressionante que eu realmente queria usá-lo no meu próprio livro. Eu até entrei em contato com a editora sobre esse assunto. (risos) A partir daí, eu só caí de cabeça. Eu olhava para as embalagens usadas para doces na loja de conveniência e pensava ”eesses materiais e a forma como são processados… Que desperdício de dinheiro!” Afinal, é minha própria arte, então eu pensei em adicionar um pouco de diversão extra, se o material está impresso nisso, ele tem sua própria história. Eu tenho um designer com quem costumo trabalhar e que também é obcecado com materiais. Isso ajuda demais por eles podem me dizer quais materiais são os melhores para desenho de linhas.
-Estou realmente ansioso para sua exposição solo cheia de detalhes! Mas com seu livro de arte lançado em março e essa exposição solo, esse seria o fim de Fantasy Water Tales?
Miwano – Não por completo! Essa é apenas uma pequena parte. Ainda há muitas partes que eu não expliquei completamente, então estou planejando continuar publicando em fanzines e outras publicações no futuro. Sendo um ex-animador, eu ficaria muito feliz se Fantasy Water Tales eventualmente se tornasse um anime.
Via: PixiVision