Tribunal do Japão Decide que Usar Chan é Assédio Sexual

Usar chan é assédio sexual no ambiente corporativo, segundo uma nova decisão da Justiça japonesa que determinou que um funcionário pagasse indenização após se referir a uma colega usando o sufixo chan. O caso chamou a atenção nacional pela discussão sobre linguagem, respeito e limites no local de trabalho.
Um tribunal distrital de Tóquio determinou que um homem deveria pagar 220 mil ienes (R$ 7.665,87) em danos a uma colega de trabalho de uma filial da Sagawa Express. A mulher, na casa dos 40 anos, entrou com um processo em 2023 solicitando cerca de 5,5 milhões de ienes por danos relacionados ao assédio.
Tribunal do Japão Decide que Usar Chan é Assédio Sexual

O tribunal concluiu que o uso repetido do sufixo japonês chan, normalmente associado a crianças, pessoas íntimas ou tratamento infantilizado, foi parte de uma conduta considerada inapropriada. Além disso, o homem também teria feito comentários como “você é fofa”, “estou vendo sua roupa íntima” e “você tem um corpo bonito”. A mulher desenvolveu depressão e posteriormente pediu demissão.
De acordo com a decisão, divulgada em 23 de outubro, o uso de chan no contexto de trabalho tem pouca justificativa e não é adequado para relações profissionais. Por isso, a Justiça reconheceu o comportamento como assédio sexual e concedeu indenização de 220 mil ienes.
A mulher também havia processado a empresa Sagawa Express. No entanto, a companhia realizou um acordo em fevereiro de 2025, pagando 700 mil ienes como parte da resolução.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar do Japão já havia publicado orientações indicando que, dependendo da situação, o uso de chan no ambiente de trabalho pode ser interpretado como assédio sexual. A decisão recente reforça essa orientação, destacando que o contexto e a intenção são fatores importantes.

A especialista em prevenção de assédio, Yuko Yamafuji, comentou que a decisão não significa que apenas usar chan seja automaticamente assédio sexual, mas que, neste caso, ele se somou a um padrão de conduta inapropriada. Ela argumenta que, mesmo quando há intenção de criar proximidade, o ambiente profissional exige respeito tanto na linguagem quanto na postura.
Em entrevistas realizadas no distrito de Shinbashi, em Tóquio, muitos trabalhadores afirmaram que chamam colegas por san, forma neutra e respeitosa, sem distinção de gênero. Alguns apontaram que usar chan com certas pessoas e san com outras pode causar desconforto e mal-entendidos.
As opiniões de trabalhadoras entrevistadas sobre a prática foram divididas. Uma mulher disse achar desconfortável ser tratada por chan sem proximidade, enquanto outra afirmou não se incomodar, entendendo o uso como gesto amigável.
Yamafuji também comentou sobre o uso de kun, frequentemente aplicado a homens em posições júniores, e disse que o termo costuma remeter a meninos e não transmite necessariamente respeito em contexto profissional. Por isso, san permanece como a forma mais neutra e apropriada para se dirigir a colegas, independentemente de gênero ou cargo.
